Apresentação pública do trabalho de doutoramento sobre as visões de futuro e do desenvolvimento sustentável da Ilha das Flores Autor: José Benedicto Royuela - josebero@yahoo.com

Antes de tudo gostava de agradecer a todos os participantes ao projecto e às pessoas que fizeram que este pudera acontecer!

O PROJECTO

Porquê a Ilha das Flores?
A Ilha das Flores, recentemente nomeada Reserva da Biosfera pela UNESCO, apresenta uma série de desafios em quanto ao seu desenvolvimento. Por esta razão foi realizado um estudo, divido em três fases, sobre as visões de futuro para a Ilha no ano 2030.
Fases do estudo:
A primeira fase de estudo consistiu numa série de entrevistas realizadas nas Flores no de Abril de 2009.
Foram entrevistados 23 agentes sociais no total, na Ilha e na Região, com o objetivo de identificar as suas visões para as Flor
es em 2030. A partir destas visões començaram a desenvolver-se dois cenários para as Flores em 2030.

Numa segunda fase, estes cenários, que iremos cha
mar de DESENVOLVIMENTO STANDARD e de DESENVOLVIMENTO EQUILIBRADO foram discutidos e analisados em reuniões de grupo realizadas entre Setembro e Outubro de 2009. Foram realizadas 7 reuniões, com um total de 30 participantes. Estas reuniões permitiram incorporar as perspectivas da população local às visões identificadas nos agentes sociais.
Finalmente, numa terceira fase, que decorreu em Novembro e Dezembro de 2010, os agentes sociais foram nova
mente entrevistados. Foi solicitado a cada um deles uma avaliação dos dois cenários definidos para a ilha e de mais cinco cenários previamente desenvolvidos pela SRAM para o conjunto da Região (cenários do PReDSA), em função de uma série de critérios definidos previamente nas reuniões de grupo junto da população local.


CENÁRIOS PARA A ILHA, desenvolvidos no contexto do estudo
Os contributos da população local, reuniões de grupo, aparecem em azul.

O Cenário do DESENVOLVIMENTO STANDARD é o cenário do desenvolvimento através do investimento público em infraestruturas, apostando num sector primário mais intensivo que vai permitir exportar alguns produtos agrícolas (carne de bovino, leite e produtos derivados do leite), num modelo de turismo mais estandardizado (apostando nas oportunidades da ilha mas não priorizando o impacto ambiental mínimo) e na exploração da água com fins comerciais. Em certos aspectos este já é o caminho que se está a seguir, mesmo que o cenário crie certa “apreensão”. Sobretudo o papel da agricultura “produzir mais e mais, isto também é um pouco agressivo”. Mas a ilha precisa de investimento público e este parece um cenário que permite criar mais riquezas, “o que a gente quer é mais riquezas” e nem todos os investimentos em infraestruturas deveriam de ter um forte impacto no ambiente, “as pessoas estão muito mais sensibilizadas com as questões ambientais”. Algumas pessoas afirmam que a ilha já tomou este rumo, certas infraestruturas já criadas estão infra-utilizadas e afirmações como: “nos já temos um elefante branco” e “as coisas das Flores são feitas fora de sítio” levam a pensar isto.


“Se efectivamente houver um desenvolvimento no sentido de melhorar as accesibilidades e os custos dessas acessibilidades penso que as Flores poderão ter ambição de viver muito à custa do turismo”
Francisco T. Organização de apoio ao investimento nas áreas rurais

“...tudo isso dá uma certa animação sócio-económica, promove o comércio, promove a agricultura, promove o desenvolvimento. Porque o que a ilha precissa é de pessoas, só que as pessoas não se fixam lá se não houver economia.”
Joaquim G. Professor na Universidade dos Açores


O Cenário do DESENVOLVIMENTO EQUILIBRADO é o cenário do desenvolvimento através de altos standards de qualidade ambiental e valorização dos valores próprios associados à própria natureza e vivência da Ilha, apostando, por exemplo, fortemente no estatuto da Reserva da Biosfera. Neste cenário, “agradecido com o ambiente”, são fundamentais investimentos prudentes e infra-estruturas que pretendam valorizar a ilha pensando no turismo mas, sobretudo, nos seus habitantes, e que priorizam o impacto ambiental mais baixo, assim como a preservação, melhoramento e valorização dos eco-serviços e redução da dependência exterior, “é bom fazer alguma coisa para não estar dependentes do exterior” (nomeadamente ao nível das importações). Este cenário, “tal vez utópico”, vai precisar de investimentos que se calhar a Ilha não tem, mas, em geral, tem sido considerado melhor para a Ilha, algumas pessoas acham que a ilha está bem encaminhada para este cenário.Mesmo que promova um cenário assim, que “tem em conta as pessoas” e “ao promover estas coisas vai dar muita mais actividade e por isso, isto dificilmente acontece”, o risco é criar um elefante verde no meio do Atlântico.

“Tem que ser uma agricultura digamos sustentável. Já com uma agricultura vocacionada para a preocupação da preservação. Não utilizar excessivamente os solos, nem os adubos, nem os fertilizantes, tem que ser dada formação aos agricultores nessa área para eles também aprenderem a preservar os recursos ambientais.”
Leonor M. Representante de Concelho nas Flores

"Um sítio destes podia ser um paradigma para o resto do mundo, tem as condições para isso." Daniel A. Técnico turismo rural

CENÁRIOS DO ESTUDO DE BASE DO PReDSA, propostos para a região

A
HOTELÂNDIA baseado no desenvolvimento turístico com quatro forças motrizes – a qualidade dos produtos regionais, a qualidade do património natural, a diferenciação do património cultural e os transportes aéreos e marítimos;

A
LACTOGENIA baseado na excelência do desenvolvimento agro-pecuário com as forças motrizes da qualidade dos produtos regionais, do potencial agro-pecuário, dos subsídios e políticas da União Europeia;

A
ECOTOPIA baseado na defesa e valorização do património natural com as forças motrizes dos recursos geotérmicos, da qualidade do património natural, da pressão sobre os recursos naturais e dos riscos geológicos e tectónicos;

A
SOCIOPÓLIS baseado na valorização da coesão social com as forças motrizes da população jovem, das ajudas da União Europeia, da educação;

A
INFOCRACIA baseado na aposta da sociedade da informação com as forças motrizes da posição geo-estratégica, da população jovem, da diáspora açoriana e da Ultraperifericidade.
Fonte: PROTA


CRITÉRIOS UTILIZADOS PARA A AVALIAÇÃO DOS CENÁRIOS

Os cenários foram avaliados seguindo uma metodologia chamada Multi-Criteria Mapping (desenvolvida por Andy Stirling) , esclarecimentos sobre a metodologia seguida em Outros-Notas metodológicas. Nas entrevistas, realizadas com a ajuda de um programa informático, o MC-Mapper, os agentes sociais entrevistados tiveram que dar uma nota máxima e uma mínima a cada um dos cenários em relação aos seguintes critérios:

Critérios Económicos:
  • Sustentabilidade agro-pecuária
  • Gestão da pesca e a sua sustentabilidade
  • Riqueza produzida
  • Tipologia e rentabilidade do turismo
  • Gestão da energia
  • Saúde da actividade empresarial
  • Sustentabilidade e conveniência do sistema de transporte
  • Incentivos governamentais
  • Desenvolvimento artesanal
Critérios Sociais
  • Criação de emprego
  • Estilo de vida e saúde
  • Situação dos cuidados médicos
  • Vida cultural e cultura
  • Sistema educativo da ilha
  • Dinâmica populacional (demografia)
  • Reintegração da população
  • Exclusão social
Critérios ambientais
  • Gestão dos resíduos
  • Uso sustentável do solo e dos recursos do território
  • Biodiversidade
  • Utilização adequada da água
  • Contaminação atmosférica produzida na ilha
  • Paisagem
  • Envolvimento da população
  • Protecção da área marinha
Após a primeira fase de análise, o programa permitiu criar um gráfico geral onde se pode observar qual foi a avaliação geral dos diferentes cenários.

RESULTADOS
PRELIMINARES (gráfico geral)

As entrevistas de avaliação multi-critério realizadas aos agentes sociais permitiram perceber melhor quais são as suas perspectivas sobre o desenvolvimento das Flores. Os dados estão ainda a ser analisados, mas os trabalhos preliminares já permitiram apresentar uma gráfico resumo que sintetiza os pontos de vista dos entrevistados em relação aos cenários.
Dos dois cenários identificados para a Ilha das Flores em 2030 pode-se observar que o cenário que apresenta um melhor nível de sucesso é o do Desenvolvimento Equilibrado. Este cenário apresenta também a nota mínima mais alta, o que significa que, no pior dos casos, seria menos negativo que o cenário de Desenvolvimento Equilibrado.

Em relação os cenários do PReDSA, considerados a priori irrealizáveis já que são demasiado contrastados, os que se valorizaram melhor foram o Ecotopia (baseado no património natural) e o Hotelândia (desenvolvimento turístico). Os cenários Sociopolis (factores sociais) e Infocracia (sociedade da informação) tiiveram uma valoração positiva menor. Em quanto que o cenário da Lactogenia, baseado no desenvolvimento da agro-pecuária, parece ser o menos interessante para a ilha e o que seria mais negativo no caso deste tipo de desenvolvimento pudesse ser realizado mas não correra bem.

Para além da identificação dos diferentes cenários, e apesar de ainda nos encontrarmos numa primeira fase de analise do projecto, este estudo tem permitido observar que existe uma valorização mais positiva em relação com os cenários diversificados, aqueles que baseiam o desenvolvimento na valoração das especificidades da ilha e na conservação dos valores naturais. Estes cenários são também os que apresentam menor risco associado, o seja, na pior das hipóteses seriam menos negativos para a ilha.
O presente estudo encontra-se na última fase de implementação. Ainda falta realizar muito trabalho de análise, mas este Blog pretende ser uma ferramenta para a divulgação do projecto e os seus resultados. A última acção no âmbito deste projecto, será a realização na ilha, nos próximos meses, de um Workshop de encerramento. Nele os Agentes sociais e os participantes nas reuniões de grupo poderão discutir as suas perspectivas e analisar os resultados do projecto. Também será uma oportunidade para identificar possíveis acções para atingir essas visões de futuro para a Ilha.

Para esta última reunião gostaria e convidar a todos os Florentinos!

Espero que este trabalho possa contribuir para o desenvolvimento sustentável da Ilha das Flores.
Poderão contactar-me no email: josebero@yahoo.com ou josebero23@gmail.com para quaisquer questões em relação ao presente trabalho.

Saudações Florentinas!

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